sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Celos de Artista (Pedro Drumond)





Celos de Artista
(Pedro Drumond)

Renuncio ao mundo, renuncio a mim
Desafio a vida, provo-lhe o seu fim
Minh'alma vai aos poucos desfalecendo, encontro-me na coxia
Na dimensão dos palcos em instantes estarei crescendo
Silêncio! Das profundezas do meu ser
Há alguma entidade que urge...
Oh! Celos de artista

Eis um ofício, que na verdade é um abismo
Do mais complexo, simples e não menos espiritual:
Ao surgir do intérprete, o personagem íntimo,
Não é que o bobo da côrte lucra acima do seu direito?!
Pois duas chuvas numa mesma gota é um mar colossal

Caço dentre mim a voz que nas cavernas há de ecoar
Caço dentre mim a outra vida - sentido da narrativa -
Sabe-se lá quantas almas eu tenho?!

Distancio-me de mim, nada temo. Ah... que prazer!
Sou apenas a testemunha vulgar do meu agora condutor
Esse espírito... Esse espírito... O que de mim fará esse espírito?
Sim... Ele... (trombones) Eis o trovador!

Disfarce. Verdade. Eternidade.
Espírito da arte, embriague-se de mim!
Roube-me! Desgrace-me!
Corte-me! Quebre-me!
Viva-me, mate-me!
Passe por cima desse meu cadáver

Ah, Invada-lhe! Consome-lhe! Estupre-lhe!
Provoque o meu "Não-ser" para existir logo de uma vez
Sob o estado "Grã de Magia"
Celos, celos... Oh, quantos celos... Celos de artista!

No multifacetado, cada personagem encarnado
É uma vida a parte dentro da sua vida
Cada canção é um destino que segue além do seu trajeto mundano
Cada vez que o palco lhe chamar, ele há de fitar aqueles olhos de Medusa
Da arte viva!

Deu-se o salto final, escorrem-se os aplausos
Ouçam! Vejam: A perfeição ali animando minha roupagem
E eu aqui, espionando-a envaidecida
Já que as luzes se apagam
E eu embora permaneça sendo nada mais que uma miragem,,,

Ora, cale-se, farrapo!
Ouçamos "Celos de artista!"


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