quarta-feira, 3 de julho de 2013

Asas da Minha Demência (Pedro Drumond)



ASAS DA MINHA DEMÊNCIA
(PEDRO DRUMOND)

Fico enumerando os dramas da vida humana
No fundo são tão risórios...
Desde as sagradas lágrimas, que por quase nada são desperdiçadas,
Até às injustiças alastradas e sem espólios

Devemos distinguir com atenção
O simples fato ver do fenômeno grande olhar
Não esqueçamos quão grande fora a lição enfática, imortalizada
- As pedras que tinham no caminho de Drummond -
Pequenos detalhes contém universos, desapercebidos
Portanto grandes devem ser nossas vidas internas
Não estamos prontos, nem fomos feitos!
Inventar a si mesmo, para vida é o sentido

Diga-me no que tanto pensas diariamente?
(Sentir e pensar, são horizontes maiores que infinitos?)
- Ah, eu penso em sexo, em morte,
Em arte, nos futuros utópicos,
E de vez em quando eu sinto amor
Quando estou exatamente... pensando em nada!
E sem ter o que me atrapalhe, absorto-me,
E uma vez estabelecida a simples consciência de que vivo
(Estou vivo? Sou vivo? Ou fui vivo?)
Um certo incômodo é causado naqueles em minha volta, noto,
Eles tentam me puxar de volta ao que chamam de realidade
Alegando a minha aparente desconexão
E eu, do alto da fonte pela qual percorre minha alma,
Desdenho com simpatia seus equívocos
Na travessia da existência, nunca estive tão inserido
Quando embarco nas asas da minha demência
E não me julgo

De todos os erros, de todos os pecados
De todos os crimes, de todos os absurdos
Não existe hediondez maior que um simples fato,
Infelizmente tão presente na vida das pessoas, que é a auto-traição
A falta de auto-perdão ou a incoerência do auto-abandono
Que mil te digam não, jamais abdique da tua afirmação
Até que teu íntimo não consinta o último senso por si mesmo
Se teu coração é privilegiado por ser incorrigível,
Que diabos portanto te levam a buscar a perfeição?
De uma vez por todas, ela é conservada por verniz, não tem ruga, não se contorce,
Não se expande, é mera estática, é farsa! Poxa!

Que o homem jamais caia na besteira
De abrir mão da própria alma, ainda que essa seja
Enlameada ou espinhosa
(Pelo menos é o que a ti se formou)
Não se emerge contra a própria essência
Para a superfície do que não possa ser a tua verdade
Se tu és um monstro, um palhaço,
Uma sombra, um impoluto ou um fraco,
Ora, tu és a tua maior e única propriedade,
Como pensas justo disso abrir mão? Tá louco?
Pouco importa o quê, no entanto não perca a magia de ser
Isso é melhor do que a isenção de lealdade, sabe com quem?
Não com os outros e seus delírios
Mas contigo mesmo!
Um abismo não preenche outros vazios
Pelo contrário, só os violenta
Voe sã ou a deriva, mas voe
Embarque também nas asas da tua linda demência!

Ah..

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