segunda-feira, 8 de setembro de 2014
O Sonho do Amor Recíproco (Pedro Drumond)
O Sonho do Amor Recíproco
(Pedro Drumond)
Certa canção faz com que eu enamore
Um rosto que nunca vi.
Com que eu ofusque-me à luz de um sorriso
Que outrora jamais amanheceu.
Com que eu aconchegue-me sobre um largo peito
Que traz em si a brisa do mar nos seus pelos,
De modo que eu me prenda nos fortes braços de um ser amado
Que recheado de zelo, embriagado de afeto, permite-me sentir
As batidas do seu coração, o silêncio da sua alma,
A melodia da sua respiração...
Permite-me esquecer , enfim, de todo o resto!
Por céus, quem é esse alguém, quem é esse fantasma?!
De onde vem esse outro devaneio que me é anônimo?
Não faço a mínima ideia, nem quero fazê-lo.
Já se faz bem satisfatória a minha doce ilusão.
Não seria possível viver. A morte de nada seria,
Caso não fossem as nossas almas alimentadas
Pelo sabor corrompido dos nossos sonhos,
Pela nuance incontrolável das nossas euforias.
E se um dia esse alguém chegar, quem ainda serei?
E se um dia quiser me amar, acaso merecerei?
Se nunca passar por mim, de que adiantará?
O sonho do amor recíproco há de cessar
Talvez num tempo que chegue por aqui
Mais atrasado do que o próprio fim!
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