sábado, 6 de setembro de 2014
Meus Olhos (Pedro Drumond)
Meus Olhos
(Pedro Drumond)
Dizem que em meus olhos
Existe encanto, fascínio
E uma pitada de beleza.
Dizem que em meus olhos
Reside-se o perturbado espírito de uma rainha
Que passa por findar os seus inúteis dias
De uma vida tão primordial
Nos sujos calabouços do seu próprio castelo.
O espírito de uma rainha, cujo reinado
Ainda pertinente, segue sem qualquer realeza,
Tal qual a morte de um ser doente
Que se cura a favor da tristeza de sua chaga.
Dizem que meus olhos oblíquos
São a derradeira moradia da alma de uma mulher.
Sendo em cascatas tenebrosas que jorram suas lágrimas
Até encontrarem-se juntas às pedras frias de uma fortaleza.
Desconheço, porém, se seu viver
É coberto de ouro ou de prata,
Riqueza ou pobreza.
O que sei é que ela convive num mundo
Onde mínimas são as verdades que professa,
Enquanto inúmeras são as besteiras que escuta.
Há, portanto, de convencer-me
Do que abrigo em meus olhos
Quem neles enxergar o pedido de silêncio
Simples silêncio...
Já que viver é dormir o sono dos tristes
Pelo privilégio de em sonhos desfrutar
O gozo visceral dos que se acreditam felizes,
Até quando descobrirmos num belo dia
Que somos um ser humano a menos.
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