domingo, 18 de agosto de 2013

Um Fantasma sem Lar (Pedro Drumond)



Um Fantasma sem Lar
(Pedro Drumond)

As minhas lágrimas agora
Não caem mais com tanta poesia por ti, amor
As minhas lágrimas agora
Estão em um número bem reduzido, pois que em meu peito
Houve um dia tanto sofrer, tanto querer, mas agora sem ti,
Nem me há nem restos, restos de dor

As minhas lágrimas hoje são mais puras
Ou talvez mais vazias
As minhas poucas lágrimas
Certamente são desculpas
Por não ter sabido manter a promessa
Por ter enfim... "evoluído"
(Por ter seguido o maldito conselho do mundo,
"Superar é o caminho", ah, que equívoco!)
Perdendo, consequentemente, o melhor da minha humanidade
Que é o amor vindo da lama
Que nunca lava a roupa suja por completo
Que fazia-me descabelado, despedaçado, a deixar-me nos umbrais, nas frestas
Nos cativeiros da alma, ouvindo os zumbidos da vida livre, insossa, lá fora
Ah, aquele modo de amar!

Sem ti antes estive e obviamente sabia do mesmo depois
Tu podes não ter estado comigo, mas eu, pelo menos, já estive contigo
E lamento a incapacidade de me dar esta revelia agora
Lamento o que não posso mais me tornar
Mesmo ciente da tua distância em nossa época
Do horizonte que eras ao se aproximar de mim
Para com ironia me acenar
Ciente daquela tua fingida cegueira
Em razão da minha verdade
Ainda que sem tato, tuas mãos deslizassem
Sobre meu rosto, com dormência
Sem deixarem as marcas que eu próprio inventava
Do teu carinho
Ali o amor utópico fazia fidedigna minha essência

Sinto saudades, amor, pois não sonho mais contigo
E se quando eu sonhava, amava, fazia-me tolo e primitivo
Hoje vejo aquilo ter sido melhor
Que o meu atual nível de espírito
Nada mais sou que um fantasma sem lar
Pois hoje vivo amando, sem princípio, sem valor,
Deixando-me por meios não confiáveis desviar
Amando, confesso, mesmo a inexistência do amor
Mesmo a ineficácia que é viver

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