sábado, 21 de setembro de 2013

Um Único Verso, O Sangue da Alma (Pedro Drumond)



Um Único Verso, O Sangue da Alma
(Pedro Drumond)

A cada gole de vinho, o sangue da alma,
Sinto encher-me mais de sequiosidade
Como eu quisera provar o beijo deste homem
Tamanhos são os áridos desertos pelos quais tenho passado
Porém de quais méritos poderia eu me resvalar
Uma vez conseguindo enfeitiçar esse sonho
Pelo qual apenas me resta encontrar, esperar, amar...

Minha alma, que já ofereceu tanta poesia em troca de solidão,
Ao sonhar com um único amor, digno de ser plausível,
Ter ouvido às distâncias ímares, um murmúrio, um soneto, um carinho,
Sentiu-se honrada em ter desperto algo de sublime
Em um único coração que seja - Por quanto ele tem almejado tal peripécia! -
Fazendo de mim, um ser que até poucos instantes
Estava a beira do suicídio, um amante com vontade de viver

Dê-me, oh, vida, a chance de me deparar com ele um dia,
Pois somente um miserável andarilho como eu
Pode surpreender-se ao encontrar, estupefato, tantos tesouros perdidos
E, uma vez o fazendo, nada mais reconhecendo como valioso
Senão o amor, a gratidão, que por eles pode nutrir
A arte é feita para o silêncio, assim como o amor é feito para o impossível
Almas como a minha e a tua, ah, essas já são feitas uma para outra...

Dizes ser pequeno, amor? Oh, não...
Pequeno sejas para o mundo, na ilusão do que torna-te para ti mesmo,
Mas para mim só podes ser grande, o grande amor
Feito de mistério, de muros, de meias-verdades
De um reflexo ao espelho da cegueira, da fantasia, da insanidade

Em meus sonhos lhe dei o mais apertado dos abraços
Encarei, perigosamente, os seus dois abismos, o seu profundo olhar
Em seguida, te findei no beijo mais sútil,
O qual jamais provara em minha vida,
Depois... ora, depois tudo desvaneceu...
Porém antes disso deixei em seu coração
Um bilhete de gratificação, anterior ao adeus

Ambos temos duas facetas,
Duas consciências, duas dimensões
Nem sei quantas vezes precisaríamos nos encarar
Afim de diluirmos pretextos, seja na ilusão de um dos poetas, anônimo,
Enquanto o outro, tão disfarçado de Fernando Pessoa,
Finaliza a história em sermos um só, um só...
Um único verso... Um pelo outro... O sangue da alma..

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