domingo, 8 de setembro de 2013

Da Doce Inocência Da Entrega (Pedro Drumond)



DA DOCE INOCÊNCIA DA ENTREGA
(PEDRO DRUMOND)

Eu poderia me esconder num pretexto natural, casual, idealista e romântico
Que tornaria mais belo o que quer que eu chamasse de princípio,
Eu poderia me gabar de que o amor, o meu amor, não é desse mundo
E sim me espera em outras esferas, não havendo tão cedo por essas bandas
De ter comigo...
Eu poderia ser um sonhador, um ingênuo enamorado
Mas não há como persuadir o tempo
Que me levaria com antecedência ao meu "grã finale"
Nada pode ser feito em nome do amor a não ser que nos tornemos
Nem mais nem menos que inexatos seres humanos

Pois viver é mais do que acordar e adormecer
Viver é mais do que ganhar ou perder
Viver todos sabemos, inconscientemente
Agora, encarnar em si mesmo, num momento de comunhão
Com o insubstituível estado solitário da alma
Fixando as suas raízes numa terra diáfana
Dando-lhe o ensejo de incorporar em si mesmo
E imprensar o mecânico e convalescente ir-e-vir
E por fim na ausência de tudo que se pensa ser, dizer-se presente
No que é muito complexo para ser ignorado, eis aí - O verdadeiro nascimento do homem!

Não chegarei nunca a me conhecer, a saber quem sou
A ter as respostas da vida, a preencher o negrume da existência
Estarei livre desse fardo, graças aos duendes, gnomos e fadas (Obrigado, amigos!)
Pois eles me confessaram que é mais precioso permanecer no mistério
A ignorância rude é bem distinta da doce inocência da entrega, da confiança interna
Assistimos o desfile dos nossos sonhos e emoções
Justamente no momento em que fechamos os olhos
E mergulhamos na escuridão oculta
O que podemos esperar dela? Coisa alguma!
Testemunhar uma deusa sem em nada solicitá-la é o ato mais nobre de devoção
Quem pode dizer que a vê? Quem pode dizer que sabe sê-la?
Quem pode nomear-se escuridão? Ninguém...

Nós somos vistos, nós somos sentidos, sugados, escravos, tolhidos
Meios de vida, de lá para cá, quer se queira ou não
A verdade sobre nós mesmos é que jamais chegamos a viver
Quem realmente somos, do contrário somos nós os vividos
Por algo pelo que não nos cabe conciliar à razão
Mas ser fidedignamente transmitido - Algo cujo nome não foi inventado,
Mas a vida, como concepção, até chega perto...

Que mané Deus, amor, espírito, releia o que foi escrito!
Escute novamente o que não foi dito...
Sim, sim, é isso mesmo, meu amigo!

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