quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Geronilson, Anjo Divino (Pedro Drumond)



Geronilson, Anjo Divino
 (Pedro Drumond)

Vinha-me há tempos sendo mais um desacreditado, como tantos outros
Não me convinha em hipótese alguma aceitar a idéia da existência dos anjos
Mas e se eu contar que a vida, de tão imperiosa que é, provou-me que sim, eles existem!
Apesar de serem poucos - mister observar - dentre os muitos de nossos enganos

Porém é bom que reconheçamos suas vindas
Até nossas ínfimas vidas, sempre auspiciosas
São com eles os minutos, eternas vivências e sabedoria
Trazem-nos uma singela saudade com a lucidez dos fatos ocorridos
Somente em tempos idos de nossos itinerários incompreendidos
Anjo divino: Um conto feliz, guiando os tristes da vida

Esses anjos possuem uma luz tão celestial
Que se a enxergássemos nos tornaríamos cegos em seguida
Nós, ainda incessantemente repartidos entre o bem e o mau
Rogamos nossas súplicas diante dos céus
Enquanto que esses guias
Varrem solitariamente nossos passos sob a luz do luar
Estamos muitas vezes mais interessados em lamentar nossas perdas
O que nem sempre nos faz notar o ganho de suas presenças

Eu, que até então só acreditava no homem "puro e apaixonado"
Dentro da literatura, da poesia e magia
Incluido na alma turva, com claro rubor e anomalia
Tal qual o autor que procura sentido em seus sóbrios reflexos
Mas que visa não ser tão escuso de pequenas alegrias
Chego a contar a história de um anjo divino
Impregnando seus amores
Como se real fosse o meu pelos versos

O que os humanos certamente enxergariam como plumas
Numa espécie de asas próprias de um anjo acolhedor
Eu apenas enxerguei por volta dele a sua linda aura
Qual a forma mais sutil do que é o meu amor

Eu, que projetava as almas humanas
Como se fossem simples troncos de árvores: Imorredouras todavia em suas densas indumentárias
Que uma vez cicatrizadas do passado tornavam-se insuportáveis,
Compreendi doravante a importância do choro temido entre a raiz e o alvorecer
Presenciei, junto a esse anjo divino, as folhas do meu espírito
Com suas inúmeras vidas e personagens
Até que apupei o estado esplêndido do verdadeiro ser
E me dei conta de ele viera então a servir de respaldo
Aos inúmeros desamparados que por ventura o buscassem

Esse anjo negro, indescriptível que era de tão enternecido
Possuía olhos vivos, abrigos de minhas esperanças mortas
Relatava-me sem qualquer desvelo suas fantasias, suas histórias
Sem imaginar que eu, filha do fogo, fosse ali presente
A sua própria dor ausente

E na roquidão de sua voz eu ouvia a ópera dos fariseus
Eu olhava esse anjo e pensava - "Céus, estou com Deus!"

Venho aqui garantir as demais cabrochas
Que não duvidem sobre a existência de um anjo divino
Anjo que o é sob a vergadura de um singelo homem
Um poeta, um menino ainda perdido
Oxalá que lhe guie ao melhor dos caminhos!

Mas zombam de mim as vadias:
- Aonde se esconde esse? Onde? Donde?

Digo-as que ele não era próprio nem para mim quiçá pra elas
Pois estamos falando do coração de um verdadeiro homem
Um anjo fraternal em busca de sua essência perdida
Um anjo que me falava de ilusões
Sem se dar conta de sua rarefeita pureza
E por isso não entendendo com a mesma razão
De tantas almas incompletas que não o compreenderem

Mas quando estive com ele era como se Deus me falasse:
- Viu, meu filho? Eis um ser que conheceu o recíproco
Mas que no entanto relata as mesmas dores
Que à sua vacilante alma tem compungido

 - Ele viveu de amor, mas de amor não morreu
Tu morreste de amor e ainda blasfêmeias revoltado
Por conta de que do teu amor não viveste
Seria tudo isso um plano meu?

- Compreendes agora que o sofrimento
Não é algo nem melhor nem pior
Nem nem maior nem menor
Porém um mesmo fantasma presente entre quaisquer extremos?

- Saibas que aquele que sorri
Aprendeu de antemão a lição de quem chora
E aquele que chora há de se purificar ao máximo
Para descobrir o gosto de pela felicidade se sucumbir!

- O que há nele também é escola pra ti, e vice-e-versa
Os dois vieram para mesma lição: Terão lá suas dúvidas e carências
Enquanto ambos, Anjo e Demônio, não assumem de bom tom e grado
O peso de uma cruz, de uma solidão

- Os seres que não mais exigem por liberdade
Estão mais próximos de verem abertas as celas do amor
Pus justamente este anjo divino em teus caminhos
Para que não permaneças sendo aquela tua antiga e vitimizada dor

Portanto, agora te digo, Anjo Divino:
Vai meu refolho, meu ser, meu carinho
Vai meu imorredouro, meu viver
Meu outro eu sozinho

Vai meu irmão, de versos e martírios
Vai que eu te amo e que Deus lhe guarde
Vai, mas me leva no âmago
Oh, meu querido, Geronilson!

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