segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cabrocha dos Cosmos (Pedro Drumond)





Cabrocha dos Cosmos 
(Pedro Drumond)

A mente cria, o coração realiza
Sim estou de volta e ainda por cima apaixonado
Nunca pensei que por isso o fim já tivesse me demarcado
E tive então de sentir as catarses de um grande amor
E descobrir que no caso um amor
Que não me dá guarita no futuro nem fosforece do meu passado
Fortemente comigo nasceu e no fusuê dos dias
Alguma espécie de anjo ou simplesmente andarilho
Esbarrou no meu destino e teve a impeta pretensão de despertá-lo

Se por acaso em outros casos essa fonte fenece, o fruto apodrece
Ali garanto que só fora presente a chispa da flor de camurça
Podendo exalar a paixão, mas jamais o amor da alma cônscia, pura
E graças a Deus sem nem chegar a tatear esses mentirosos espinhos
Percebi que minha simples respiração já era motivo de sobra para amar
E com coração resfolegante sob pena de um propósito fui sufocado
Para que dentro dos meus chiliques eu viesse a ser apaziguado
Pelo ferronho portão da dor que em sortilégios viera me descambar

Não existe posse, não existe sonho, não existe expectativa
Não existe morte, não existe o confronto, vivi sim um grande amor
Como os verdadeiros amantes que nunca consagram suas estórias
Dos ditos cujos que com seus amados não perpassaram suas últimas horas
- Ora essa, quem diria?

Não sou surrealista, sou sim de longe o melhor assunto que conheço
Por isso abandonei o pensamento
Filosofia é experiência de quase morte
Enquanto ensejo real de viver foi redescobrir o silêncio
Continuando a zapear por dentre os fiados do meu ser poeta, vadio
O amor que o mundo constituiu barreiras
E que portanto não prossegue na continuidade
Tem a sorte de desvendar qualquer respaldo que vai além das fronteiras
Fui signo dos sonhos mais noctívagos e incautos em matéria de sobriedade
Amor do tipo inconcebível, portanto quase um pecado de se desperdiçar

Os verdadeiros românticos jamais vivenciaram seus grandes suspiros ou temores
Por isso seus corações permanecem soltos, livres em chamas
Com sentimentos tão mais sublimes quanto que arrebatadores
Sem ilusão, sem machucados
Sem Sol, sem estrelas
A mente engana, o coração emana
Colhi do poço mais penumbrante
Lágrimas que a alma de tão condoída clama
Até perder as forças e titubeante dizer - Por favor, chega!

E cá estou eu, a cintilar nesse pedaço pequeno de esquina, de palco
Assentindo que óbvio, estou mais que amando, mais que apaixonado
Varejando minha verdadeira busca, o anjo da alma, o ópio da orgia
Não confabulo mais com as tramoias de aspecto dual, pois que a matéria é antissentimental
E assim sendo exsurge de mim belamente o verdadeiro amor do espírito
Confesso ter desacreditado que podia ter menção do que seria isso um dia
Mas cá estou eu para dizer que atingi
O que há muito viera pedindo ao Divino Sagrado
Estou amando e Céus! - Estou sendo ineditamente amado
Por ninguém mais nem menos que essa usurpadora anedota
Essa escaldeante Cabrocha dos Cosmos cujo nome se dá por Vida
- Ufa, minha querida! Chegou há tempo, já não via a hora.

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