quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Intensidade (Pedro Drumond)



Intensidade
(Pedro Drumond)

Gosto das novidades, do desconhecido
Pode ser que eu viva de glórias e fracassos vãos
Por ter nunca me estabelecido
Ainda que eu nunca encontre meu porto-seguro (E ele de fato não exista)
Saberei que a minha missão é mais do que cumprir a meta
E sim aderir a busca
Digo essa busca incessante que nunca me levou a lugar nenhum
Mas também não me deixou estático, pálido, insosso

No meu caminho encontrei deuses e demônios
Virei noites na paixão de uns, no amor de outros
Sobressair-me em não ter tomado apenas goles de vinho
E sim ter suado menos que com o meu próprio sangue

Minha razão é a prova concreta de que sou um ignorante
Diante das minhas emoções, do que as tingem
Sempre que você se deparar com alguém assim, alerto-lhe, não o admire
O que se exibe pode ser parte de uma verdade sua sim, mas não toda por completo
Prosear sobre sentimentos pode ser um bel canto
Mas deste canto urge muitas vezes o silêncio
O silêncio de quem é mais vulnerável do que se pensa!
Toda armadura é mais fácil de ser perfurada
Por ser feita de metal e não de pétalas de flor

Não viva muito, viva, sim, bem! Viver bem, é a essência...
Ponha-se mais preparado para morte do que para vida
A natureza nos fez sem medos, sem amarras
Sem distorções, sem pormenores
Devíamos ter por vontade sair dela da mesma forma que entramos
Se a morte chega até nós e já não somos assim tão escravos da vida
Tendo-nos dito que somos homens que decidem aonde vão
Ao invés de seguirmos os caminhos que simplesmente nos reserval
Então teremos superado os nossos destinos, mesmo nas suas imutabilidades
É isso! É inútil chorar pelo tempo não vivido
Ou pelo tempo que não vai se viver
É inútil viver sem chorar igualmente o que se vive.
Não se acanhe, chore! Chore porque mau é a ignorância
Do que o pranto tem a lhe ensinar
E veja como se pode sorrir sobriamente, pois o bem é ter aprendido essa ciência...
Busquemos o infinito no limite de cada dia
Se a morte chegar e eu estiver ausente
Então ela não me driblará nem eu serei-lhe mísero, apenas estaremos quites!

Eu nasci do amor, é sim ao amor quem devo grande parte da minha essência
Não tem haver por quem eu senti, mas sim por quem eu me tornei a partir de então
Amadureci primeiro e somente depois pude ser menino, beato, infantil
Já a maioria das pessoas, paridas da desilusão, optam logo por chutarem o pau da barraca
(Não posso dizer que estou inteiramente ausente desta categoria)
Mas se esquecem que seus corações
Podem ter seguido destino juntamente com tal ato deliberado
(Sim, confesso, também cheguei a perder o meu coração
Na feira das ilusões, mais eis aí um ocorrido
Que me fez sentir-me mais dono de mim que o contrário, creia-me...)

Digo que vivi o amor assim como o sexo, separadamente
Cada qual em suas formas puras, íntegras
Tive o privilégio de viver o amor, puramente
E deveras foi isso o que me deu o nascimento d'alma
Hoje minha alma continua a crescer
E a depender para alguns lados (Fazer o quê? Acontece...)
Enquanto segue a degustar os êxtases, oriundos do ritual da vida
Ambos os aspectos só me favoreceram numa virtude, direi-lhes qual:

- Devemos aprender que na vida não existe felicidade ou liberdade
Existe sim in-ten-si-da-de, digam bem alto: Intensidade!
É com imenso júbilo que finalizo alguns dos meus dias (Não todos, logicamente)
Concordado que fiz jus de ter levantado-me da cama, visto que pelo menos os vivi intensamente
Assim, não há porquê temer a morte nem preocupar-me
Quanto a qualidade da minha biografia - Eu morrerei antes eternizado em mim
E naqueles em que me deixei afetado, doce ou cruelmente...

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