sexta-feira, 6 de setembro de 2013

MINHAS ESTAÇÕES NÃO-PASSAGEIRAS (Pedro Drumond)



MINHAS ESTAÇÕES NÃO-PASSAGEIRAS
(PEDRO DRUMOND)

É madrugada de um dia sem lei, sim, de um dia...
Os corvos ganham as ruas,
As luzes vindas dos postes fazem um balé de sombras laterais,
Serem um divino espetáculo sobre as calcadas...
Sobre os itinerários, por d'onde se pode escutar tantos passos
Ao ritmo dos encontros e desencontros com suas digitais
Balé de sombras literais...
Por onde se vêm perdidas tantas almas, umas de mentes mui cheias
Outras fora de órbita, desoladas... Por que diachos não quiseram olhar o céu
E enxergarem a forma mais evidente do nada?
Me disseram, certa feita, que meu avô tinha ido para lá...
Sendo assim eis o mar que há de encobrir-me das trapaças de minha autoria

Os últimos comércios já fecharam as suas portas
Existe algo de belicoso na solidão das estradas
Um vagueante ou outro passa por elas
E através da escuridão, mau iluminada, possui-se a ilusão do ópio
Do sentir-se poderoso
Alguns gritos boêmios são ouvidos, não sei de onde
Outros suspiros de amores, desfarelados em incêndios, são sentidos
Não sei de onde...
Alguma adrenalina corre por entre as veias, vê-se as pupilas já dilatadas
Olha-se para trás, não há ninguém,
Arqueja-se rapidamente a cabeça a diante, quem?
Petrifica-se um instante, profusa viajem interna é feita
Como quem desvela a alma no fundo de um poço
Ou em areias movediças, ou salas secretas de bibliotecas...

O que aconteceria se eu pudesse reunir os cinco de mim?
Se a vida, eternamente celada, com o passar dos tempos
Tivesse desfeita sua artimanha, por ora enferrujada, e posto adiante:
A criança, o jovem, o adulto, o velho e o cadáver, que me compõem...
Seria esse o apocalipse ou a Terra deixaria de girar?
Que visão teria minha alma de si mesma
Se viesse a ser fragmentada, mastigada, repartida?
Se eu fosse catar junto à pá, eu mesmo?
O que eles diriam de mim, tais drenagens,
Que emolduraram-se no devir de minha neutralidade?
Precisamente, as perguntas que me instigo a fazer
Me levam mais além de qualquer coisa, se comparadas à verdade

Sentei na praça, ora, como vais, Lua Minguante?
Míngua minha insolência, minha fome, minha insônia
O que chamarem de essência... Míngua-me
Na matriz, no motriz, na sola dos carrapichos
Permita que sigam iluminadas, após o encontro utópico
O que colheram nas próprias visões que deram
Uma à outra, digo, dessas minhas estações não-passageiras, que tanto guardo sem preservar...

Vivo o hoje, saboreando-o de forma distinta, a observar tudo
Com muita distinção, pois sei que amanhã, maturado como outro
Eu voltarei às minhas lembranças dos fatos de cá
Afim de expandir a minha cegueira de emoções
Ou seu equívoco ideal.

Fixo meus olhos aos céus, d'onde pincha-se as pistas do nada,
Pois sei que futuramente, quando isso aqui, agora, for passado
Os meus olhos, maquiados de seus sonhos, voltarem para cá
Surpreender-se-ão, uma vez que eu já esteja a ponto de encará-los
Tal qual a travessia dos tempos sancionou-me:

Não viva do presente, não exista no futuro, nem permitas seres enterrado
Sim, enterrado, no passado
Meu cárcere muitas vezes são os versos da vida, que eu levo a contá-la, Escrita à pena de minhas alucinações
O que é a vida? (Sempre pergunto isso a qualquer um
por falta total de curiosidade em saber)
Enfim, aconteço...
Só aconteço... Aconteço só...
Talvez, sim, por que não? Aconteçamos!

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