segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Escassa Confiança (Pedro Drumond)




A Escassa Confiança
(Pedro Drumond)
Assim como quem tem uma espada apontada para suas costas,
Assim como quem tem os ventos empurrando seu salto do precipício,
Meu viver de tal forma vigora. Meus segundos se esgotam
Na medida em que a minha eternidade é assassinada pelo desperdício.

Que a pressão deliberada dos ditos "bem-intencionados",
Despejadores da peçonha sem vindicta,
Jamais se estenda à loucura dos desesperados,
Pois o acalanto da chegada de uma esperança
Logo torna-se morno quando sonha-se demasiado
Em função da escassa confiança transmitida pelo pacto da vida.
Seja lá por sua altiva sedução, seja lá por suas perigosas elegias.

O festim passou pela minha rua.
A alegria da massa ainda ressoa aos meus ouvidos.
Meu coração por isso não dói, já repousa desiludido.
Cabe a mim durante sua baixa guarda
Fugir à tortura de preservar
O restante dos meus poucos pedaços
Que ainda soltam seus fracos gemidos.

Meu ser pelos reflexos do espelho
Parecerá mais livre, intacto e vivo.
Meu ser pelos males do desejo
Definirá-se menos completo,
Nada abençoado, pouco satisfeito.
Quisera eu quiçá ser digno pelos vários infinitos
Que transcorrem os meus defeitos.

Mas não, ai de mim! Tenho, querendo ou não,
De engolir os sapos, os bois, os desquites,
Quando a efervescência alheia
No seu mais alto auge, me discute.

Não posso seguir inteiro, portanto sou condenado.
Ao apelo derradeiro são inúteis,
Dispensáveis e incompetentes,
Quaisquer que sejam as minhas raras virtudes.
Assim como são os meus espetáculos baratos
No teatro sem plateias da minha inquieta mente.

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