domingo, 20 de outubro de 2013

A Cachoeira de Águas Douradas (Pedro Drumond)




CONTOS DA MINHA ESQUIZOFRENIA:

A Cachoeira de Águas Douradas

Vou contar que sei de uma dimensão diferente. Simplesmente sei. Mesmo que jamais tenha ouvido falar dela. Nem jamais a conhecido pessoalmente. Talvez deem o nome disso de fé, imaginação aguçada ou me intitulem de demente. Que importa? Nada do que promulgo é menos egoísta, é de mim para mim, é do papel para a lixeira, da palavra para o silêncio, o que mais eu posso esperar?

Pois bem, falarei de uma estupenda cachoeira de águas douradas. O cair de suas águas é composta de notas celestiais. Suas águas possuem uma certa condensação, mas ainda assim são espasmas, como todo líquido. E são brilhantes, como o são! Chegam ser ofuscantes - a beleza é uma névoa que requer cuidado na contemplação. Não pode haver o abuso, pois corre-se o risco de contrair cegueira. Mas uma vez cego é que se enxerga a verdade. Oh, dilatado negrume!

Eu vejo uma grande cachoeira de águas douradas. O céu, deus agasalhador, é uma tela de colorações rosadas, violetas e amarelas. Todas tênues. Existem ao redor desse espaço místico tantas luas, de variadas formas, tanta natureza explosiva; porém o que se vê não são estrelas, por acaso já ouviu falar da chuva de diamantes?

Alguns vivem nesse lugar, nesse patrimônio do infinito. Não consigo determinar quem ou como são, tudo o que me prende a atenção são as águas douradas. E essa fonte é sagrada. É dela que vem as vozes dos cantores, os talentos transcendentes, a magia do ser! É ao matar a sede da vida nela, contando com a quantidade que se toma, que se desenvolvem as almas e suas respectivas naturezas. Creio que toda alma que crie obras de arte, em específico, já bebeu dessa fonte para fazer o que faz. Mas certamente ela é para todos. O que me inculta as ideias é saber se os gênios foram aqueles que se embriagaram. Será? Teria sido por termos um dia bebido dessa fonte, que nos familiarizamos tanto com o álcool? Alguns beberam dela e outros ainda o farão. Nem posso supor o sabor exato, mas o néctar daquele sangue dourado da natureza é feito com extratos de nebulosas, é algo simplesmente dos deuses!

Eu imagino que um dia uma senhora vai me abordar, me oferecendo esse líquido. Será na Grécia. Ao tomá-lo pensarei que quero o sabor e o nível de todos os seres que já me emocionaram, que são a minha verdade. Quero ser uma mistura de todos, em seus absolutos, representados por mim, podendo contar, ainda com o privilégio, de aflorar o que eu tiver de singular, a sobressair-se de minha pessoa, por assim dizer. Quero fazer uma ode às pérolas da eternidade e assim conquistar meu lugar na transcendência. E traduzir uma nova pérola nesse cordão. Quero ser algo novo dentro das vertentes clássicas. É certamente dessa fresta que causamos orgasmos de todos os níveis!

Acabo de fazer uma coisa de fórum muito íntimo - que é revelar uma das utopias que me regem. De revelar a suposta alucinação que fiz como orientação da minha realidade. Não se trata de uma simples esquizofrenia. Denotaram um peso muito grave para esse aspecto que tornam seres, afins comigo, peculiares. É um mundo interino, nós somos seres interinos. Somos peixes e vivemos dentro das águas esquizofrênicas de nossos oceanos intrínsecos. Ninguém chega lá, nunca chegará, por isso essa frustração no final de tudo e a resignação com nossa solidão. Porque não abrimos mão desses sítios internos, e ninguém pode sobreviver lá, há páramos rarefeitos demais para qualquer um, e ao mesmo tempo, profundas e densas fossas, até para nós... Somos peixes livres e incorrigíveis, a sós no útero de nós mesmos.

- Pedro Drumond

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