sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Horas de Ociosidade (Pedro Drumond)






Horas de Ociosidade
(Pedro Drumond)

Um home sábio recebe suas horas de ociosidade
(Se não abrir os olhos até seus anos,
Seus tempos, seus ciclos, de total ociosidade)
Como se essa fosse uma extrema benção
Que escapara meticulosamente da prisão dos deuses
E malograda que só vendo, cai-lhe às mãos

A hora de ociosidade para o homem sábio é o ensejo perfeito
E o único ponto fundamental concernente à sua existência,
Pois se de fato sábio o for, haverá de preencher
Esses seus vagos segundos que lhe restam
Com tudo o que de mais célebre e duvidoso satisfizer
Sua fome e vazio incomensuráveis de espírito

É para se voltar às fontes de sabedoria
Que servem esses momentos – As horas de ociosidade
O sábio sabe que acontecer na vida
É lançar-se no sistema do cotidiano e dos rumos traçados
(Prestígio, Fama, Poder, Mesquinharias e, “Crê em Deus, Pai” - Trabalho)
E de dada forma oferece seu desprezo a tudo isso,
Pois do contrário é a vida que lhe acontece abundante, jocosa,
Nas suas justas, narcisistas e egoístas horas de ociosidade

Saber atuar nos bastidores
Requer mais talento que brilhar sobre os palcos
E são poucos aqueles que se regozijam
De serem excluídos do restante do rebanho, do restante da marcha
Para edificarem-se no lugar do próprio mundo interior,
Cuja gestação ocorre nas disputadas horas de ociosidade

Consciente disso é que posso revelar
Que os alienígenas só se diferenciam de nós, os reles humanos,
Por não julgarem nem nos compararem com os outros
Nem tampouco fazerem uso inútil do discernimento,
Afim de possuírem por concluído, mecanicamente,
A palavra-chave que definirá
A estirpe de uma pessoa qualquer,
Baseando-se nos seus sonhos,
Nas suas tendências e nos seus gostos vulgares,
Como se lançassem um carimbo sobre o papel

Portanto para certos sábios essa é a lei:

A cada um livro lido, dez anos de vida;
A cada bom e mau sexo feito, três séculos de orgia épica pela frente;
A cada embriaguez, a cada alegria, a cada tristeza, um caloroso milênio egípcio;
A cada vez que amar...
- Para tudo! Como?
A cada vez que amar...
- O que? Que absurdo! A cada vez que amar, isso?
- Exato!
Bom, a cada vez que amar, as coisas já mudam para seu lado, caro indivíduo...

A cada amor sentido, nutrido, desfrutado
A cada amor no coração fincado, é dado uma morte eterna para se cumprir
Morte essa que é governanta de poucos, porque não pertence aos trunfos dos sábios
Mesmo tendo por habitat natural as dimensões ativas repletas de horas de ociosidade,
Os sábios são espíritos, cuja a vida possui total preguiça de incluir no seu elenco
É por isso que “o amor”, “a iluminação”, “a salvação” e “a glória divina”
Não foram preparados aos ilustres, santos e sábios,
Mas sim, (à critério próprio se for via sorte ou azar)
O amor, como fim maior de toda existência,
Passa a ser um tributo ou encomenda particular
Reservado aos mais ignorantes, simples e animalescos espíritos
Que vivem incutidos numa multidão de solidões,
Da qual eu e tu, tu e eu, por fim, nós,
Podemos nos esbarrar a qualquer momento!

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