domingo, 1 de dezembro de 2013

ATENÇÃO, ISSO É UM ASSALTO!






ATENÇÃO, ISSO É UM ASSALTO!

Não sei sinceramente o que mais machuca a esperança nutrida pelo ser humano que almeja um mundo mais decente --- Se é ser apunhalado pelas costas ou ser atacado de frente; se é ser traído por alguém caro, algum conhecido; ou se é ser torturado por alguém qualquer, nunca antes visto.

Hoje, andando a esmo, e como sempre sem destino algum, embora em busca de alguma coisa que nem sei do que se trata, fui, como tantos outros desavisados, vítima de um assalto. Vítima? Perdoem-me, mas ainda que ensanguentado na guerra, que entrei sem sequer pedir, eu jamais aceitaria o papel de vítima sobre qualquer hipótese! Ainda que saiamos perdendo algo ou alguém, quiçá nós mesmos e nossa própria vida, lamentavelmente à troco de nada, eis que possuímos alguma dignidade pessoal, incapaz de ser retirada de nossa posse, ainda que seja pelo mais sagaz dos réprobos. Valores, essências, atemporais e invioláveis, são produtos intocáveis de nossa propriedade de ser.

O que foi levado de mim não passava de cunho supérfluo. Graças me acolheram de que não houve nada tão sinistro, de terrível ou abjeto. No entanto, o que mais agrediu minh'alma, sua sanidade, confesso, foi o olhar paranormal daquele que chamariam de meliante. Quanta maldade assustadora, encarcerada e agitando freneticamente, as grades no olhar de um outro ser humano! Como pode uma coisa dessas? E o que mais me condói é isso --- o fato de estarmos falando do ser humano, que por tantas eras vem se provando ser o que é, muitas vezes de forma contracorrente, contraditória do esperado, de forma desumana.

Um pouco mais cedo, anterior ao fato ocorrido, frescas ainda se faziam minhas palavras proferidas a um transeunte qualquer com quem conversava a espera de um táxi. Falávamos sobre a empatia humana da qual somos responsáveis. E o quanto somos, singularmente, retalhos de um mesmo tecido, traços de um mesmo rosto, fragrâncias da mesma essência. Disse eu, que diante de um bandido, um assassino, um Hitler da vida, algum hediondo espírito, não existiria muita diferença entre o que eu sou e esses que agora cito. Ao olhar nos olhos de alguém dessa espécie, eu não poderia sentir muitos transtornos, talvez eu estivesse olhando num espelho, por que não? Provavelmente estivesse diante de outra expressão de mim mesmo e de toda outra parcela de pessoas. Que diferenças de fato temos um dos outros? Poderia eu julgar alguém pelas suas vilipendiosidades ou endeusar um outro ser pelos seus prodígios e princípios? Nem por bem, nem por mau, jamais poderia se fazer isso. Nem eu ou qualquer outra pessoa, pois se existisse alguém melhor ou pior do que outro alguém neste mundo, jamais teríamos nascido debaixo do mesmo teto --- o chamado, planeta Terra.

Mas veja só que ironia da vida - momentos depois de compartilhar reflexões acerca dessas coisas, eis que eu ouço:
--- Se correr morre! Passa tudo, anda logo! Passa, porra!

De uma coisa estou certo, o que fazemos aqui, aqui haveremos de pagar. De uma forma ou de outra o ser humano não precisaria abusar da sua criatividade e criar céus e infernos para se dissolver. Bastaria que aceitasse e entendesse que a realidade em si, especialista em ser matéria fria e bruta, já faz o bastante para tal. Deste abrupto acontecimento, restou-me uma recompensa. Estou falando da angústia e desolação, causada com mais intensidade rente as questões que ficaram-me do fato --- Afinal de contas, quem somos? O que jamais seremos? Nada, nada... Absolutamente nada. Do pó ao pó.

Como continuar a crer no meu gênero, se a raça humana cada vez desencanta e incentiva a descrença? No entanto senhores, por maiores que sejam as parcelas, haverão aqueles poucos que por um desvio de gênero fogem à regra. Falo sobre os que estão do seu lado, os que te consolam e os mesmos desconhecidos que surgem do além para te restituir do que foi perdido, lhe devolver a esperança, com a nobreza de um ato honesto e de uma simples lembrança de amor. Não amor romântico, mas sim, amor existencial. Quer roubar o meu amor existência? Toma, ande depressa, antes que te peguem; prometo não reagir. Continuarei andando a esmo enquanto os réprobos estão a fugir.

Pedro Drumond

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