sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Império Marcado, O Imperialismo Cotidiano (Pedro Drumond)




O Império Marcado, O Imperialismo Cotidiano
(Pedro Drumond)

Ácido gástrico, radioativo,
Tóxico e absolutamente corrosivo,
Encontrado com facilidade por aí...
Seria disso feito o veneno da raiva e do desapontamento
Combinado ao acréscimo da angústia que ingerimos,
De forma deveras seca e reprimida, goela adentro,
Em decorrência dos famosos dotes anfitriões
Com os quais somos todos nós recebidos pela vida?

Quanto mais sou forçado a viver,
Quanto mais sou forçado a me aprofundar
Naquilo que o destino me reserva e, sobretudo, naquilo que ele me restringe,
Parece-me mera fatalidade essa sensação indisfarçável
De impotência, desorientação e cansaço que me ocorre,
Pois nessa altura do campeonato, vamos combinar, né?
Já estou mais do que distanciado
De toda e qualquer ideia de completude,
Inspirada a ser alcançada como o fim maior
Pelas minhas esperanças e crenças,
Nutridas desde os tempos inóspitos, próprios da juventude
(Pobre dessas... já devem estar mais do que empoeiradas
Nas gavetas reservadas às inutilidades do nosso frutífero devir !)

Ultimamente tenho percebido que as peças-chaves
Unidas e separadas pela vida – casos e acasos –
Seriam na verdade, parte do grande programa
De experimento laboratorial minguante, mesquinho
E principalmente territorialista das relações humanas
(Combinemos, relações essas cada vez mais irascíveis!)
Que seguem o mesmo padrão do império marcado,
Não do mais forte sobre o mais fraco,
Que seguem o mesmo padrão do império marcado – repito –
Porém no caso do mais incontingente sobre o mais alienado!

É exatamente em nome desse império
Que ocorrem na teia da nossa trama existencial
Mais do que divergências, competições,
Disputas entre a verdade ou mentira mais convincente...
É em nome desse maldito imperialismo cotidiano
Que passamos, sim, pelo crivo das mais absurdas leis dogmáticas,
Inseridas que são no contexto e caminho que nos levariam
À nossa tão sonhada proposta de liberdade

E como consequência desse imperialismo cotidiano
Convivemos com essa incontrolável avalanche
De desvarios e degenerações a respeito das amalgamas humanas
Das quais mais se tem notícias, fora que nem convém citar
Os outros tantos caprichos alheios, especializados que são em nos forçar,
Nos ameaçar e chantagear emocionalmente
Até que se vêm todos, sem exceção, prontamente atendidos...
Chega... Não... Basta! Agora chega!

É vero, portanto, que na vida mais se tem preponderado
Aquele que sabe fazer das suas limitações de espírito
Um bloqueio monumental e irredutível
O suficiente para delimitar, controlar e tolher,
Com pressão austeramente férrea,
Os passos e escolhas que dizem respeito
Ao restante das outras pessoas – Quem ousará dizer o contrário?

Agora, nesse ínterim, a sabedoria se encontraria aonde mesmo?
Talvez no casulo daquele que sabe a hora, o momento
E principalmente a quem ceder?
Talvez na caverna daquele que sabe
Como defender-se em silêncio ao invés de se autoflagelar
Com todas as palavras nuas, cruas e geralmente já ultrapassadas
Do prazo de validade, que correm o risco de serem proferidas em vão
Em resposta àqueles a quem absolutamente nada devemos provar?
Ou se, já chegou a pensar, a sabedoria se encontrasse
Presente no porão daquele que nem chega a estar
Plenamente consciente do que já sabe?
Nós somos um apunhalado de memórias, a sabedoria quiçá, de esquecimentos...

Exato! As guerras troianas, egípcias, gregas e romanas
Nem sequer de perto se comparam
A esse espezinhado padrão que engloba a convivência,
Cujo estado se faz precário e sucinto, já natural entre os homens

Quando quisermos definir uma visão mais ampla
Entre os caminhos percorridos na vida
Não será, como de costume, com o auxílio de extremismos – “Bem X Mau”,
“Certo X Errado”, “Luz X Trevas”, “Forte X Fraco” – que deveremos nos ater,
Caso busquemos, de fato, uma compreensão mais esclarecida
Sobre as entranhas, sobre as vísceras
E principalmente sobre os sacrifícios, feitos das tripas ao coração
Por quem geralmente é incapaz de prestar algum reconhecimento por nós,
Os axiomas, os teoremas, as conclusões, as charadas solucionadas,
Nesta hora de nada servirão. Não passarão de pedras, entulhos,
Capazes que são de nos transviar de todo o nosso crescimento
Assim como se pode considerar um sinal de perigo irrefutável
Para nossa sã demência, um caminho, a princípio livre e desimpedido,
Mas que na realidade pode estar esperando por assistir, ansioso e faminto,
A nossa queda espetacular, acompanhada dos destroços quase irreconhecíveis
Que sobrarem dessa nossa impulsiva dignidade
(Que aliás, só para eu fingir que sei falar a verdade,
Nem deve ser lá essas coisas mesmo...)

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