sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Hermes Pranteia Poseidon (Pedro Drumond)






Hermes Pranteia Poseidon
(Pedro Drumond)

Como já me machucaram outrora
As falsas esperanças que não foram dadas
Assim como o "não" que nunca me chegou
Portanto, me deixe com os meus sonhos impossíveis, caro Poseidon,
Que assim eu não vejo o pouco da minha essência conspurcada
Pela mais cruel e trágica das deusas, a temerosa Realidade

O amor não é seriedade
O amor é sim a autarquia
Que tanto aos homens falta
O amor que me concerne
Não seria a zombaria em moda
Nem tampouco o troféu em voga
Como os são conhecidos, oriundos dos derrames,
Ostentados pelos desapaixonantes dos contos reais

O amor que me veste,
Que se estende a esse nu vazio
E incontemplativo que sou,
É apenas essência minha, querido, apenas essência...
Confesso que indago --- Qual seria a tua essência?
Tua peçonha teria enfim que sabor?
Bebê-la por um momento, seria a maior saciedade
Da cigana dos desertos que agora vos fala
Calando-se que está na bruma passageira
Quando lembrada por ti de que a eternidade
É algo mais importante do que nós mesmos

Alimento-me das viagens rumo ao teu casulo, Poseidon,
Como se fosse eu o invasor do Olímpio
A roubar o néctar das divindades
Poseidon, tão diferente dos outros que se tornaste,
Encontra-te agora a deriva da parcela da humanidade
Tão intocável, tão perturbado na sua calmaria do mar
Fazendo-me até cogitar, rente ao frio que me desmembra:
Como deve ser sombria a solidão dos deuses, não?

Sim, como deve ser sombria a solidão dos deuses!
Já que eles não seriam capazes de amar
As sereias, as ninfas
Nem mesmo três vezes de quem eu sou
Não seríamos o bastante para vocês, deuses,
Jamais chegaríamos às cutículas do suficiente
Para saciar suas fomes e sedes
Deuses, por favor, não se envergonhem
Todos nós sabemos que seus amores,
Seus mais sublimes afetos, são dedicados aos humanos
Totalmente que são controversos, ignorantes e incapazes
De viverem nos abismos, nas câmaras de tártaro,
Enxofre e chamas do Hades, que sucumbem
Suas almas tão angelicais

A loucura não se interlaça com outras loucuras
Duas almas gêmeas precisam tanto do desespero
Quanto da procura em vão uma da outra
Afim de nunca se fundirem nas suas próprias verdades,
Para que não corram o risco de morrer
Abrindo mão do pouco que lhes restam
Do chamado amor próprio

A vida é uma coisa tão nebulosa
E ao mesmo tempo tão bela
Que somos forçados a vociferar:
"O homem é um animal tão pobre
Que nem mesmo animal é capaz de ser!"

Te espero, Poseidon, no templo de Delfos,
Para juntos descobrirmos
Os mistérios dos outros seres
Sem, contudo, jamais nos tornamos cientes
Da nossa complexa, emaranhada
E mísera verdade de amor
De tudo o que nos diz respeito...

Não demores, Poseidon, seu mensageiro te pede,
Do contrário me atirarei no Argos e morrerei
Até perpetuar-me nas águas que governas,
Sem nem mesmo que tu tenhas sido
Capaz de me resgatar

Me chame, caso queira, de Hermes, o bufo viajante,
Hermes, o próprio, três vezes incapaz de não amar!

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