sábado, 28 de dezembro de 2013

Vácuos no Interior (Pedro Drumond)





Vácuos no Interior
(Pedro Drumond)

Quando em seu peito, o coração
Ao invés de ser um jardim
D'onde se colhem sonhos,
Amores e prodígios,
Já não passar de um cemitério
D'onde se jazem todos os contos
As dores e os maiores sentidos,
E você perceber que inexplicavelmente
Ainda se conserva intacto
Talvez terá aprendido a seguir adiante
Com as próprias feridas,
Mesmo que essas ainda deixem
Como sinais de rastros, vácuos no seu interior
Juntamente a um acumulado vazio
Ingressado de silêncios e ideias
Que giram em torno
Do que talvez seria o possível
Se acaso o impossível não fosse
A presença mais concreta
A aguardar na próxima viela
Os aspiradores a amantes de si mesmos

"Você ganha sempre ao perder
E perde sempre ao ganhar"
Chega a ser mais do que irritante,
Mas toda lei da vida se baseia
Nesses tipos de paradoxos e trocadilhos,
Nessa mesquinha inversão dos valores
E das bifurcações que nos fazem
Trafegar vida afora como num caminho só,
Como a sós sempre nos sentiríamos
Em quaisquer que não fossem
Os nossos caminhos

Antigamente, eu costumava a estar
Mais imbuído de uma torrente
D'onde se dispunham
As emoções mais singelas
Que me afrouxavam o coração, agora falecido,
E davam mais vida aos excertos de mim mesmo,
Voltados, na época, a um sujeito
Que não classifico nem nomeio,
Mas sendo à sua áurea
O ponto principal ao qual me referia
Quase que desesperadamente
Sob pena da poesia,
Tecendo a punho e contrapartida,
Tristezas, raivas e falas avulsas
Das quais eu não tinha o ensejo
De sequer proferir ou olvidar
Declarações, conversas a sós, transmutadas em versos,
Relatos e primazias, acanhadas
D'um arrebatado amor pessoal
Que me dava a sensação de que amar
Só podia ser um dom angelical
A ser disseminado em condições habituais
Aos personagens reais, cujas falácias
Se desenrolassem sobre os palcos do inferno

Todavia o tempo foi passando
E eu me modificando...
O tempo foi passando, passando...
E mortificado cada vez mais eu fui ficando
O tempo foi passando, passando...
Então houveram-me doravante
(Hmm... Como posso explicar?)
Uma espécie de relutância,
Própria dos doentes da alma
Que em busca de darem
Sinais pouco convincentes de cura
Para si mesmos e para os outros,
Ingênuos, não se desfazem
De seus paraísos ou tesouros
Preferendo ficar consigo à salgarem os seus desgostos
Passando, passando... O tempo foi passando...

Versos filosóficos e provocativos
Versos utópicos, versos universais
Nessa altura do campeonato
Eu já não posso mais falar de mim
Porque o excesso há tempos ficou-me escasso
E eu não sou mais tão interessante assim
Poupemos...

Depois de eu ter aprendido a matar os amores
Para não ser morto enquanto vivesse sem eles
Eu manipulei a eternidade
Como quem faz um doce de leite
Se um dia, portanto, seu coração
Como o meu se tornar um cemitério
(Acredite, o que não espero...)
Lembre-se que quem possui a vida de fato,
Não é quem se resguarda dela,
Mas quem nela se lança
Em suma atormentado
Por um desvario frenético
Rumo aos picos e abismos
Que se apresentarem aos seus olhos,
Mas permanecendo sempre certo
Ao cativar e podar
Sua essência mais sentimental,
Ainda que ela não se sinta mais tão exaladora
Do que antes compunha a sua fragrância

Assim como a arte não é um exercício da vaidade,
Mas sim do espírito, o amor não é um exercício
Dos que necessariamente estejam acompanhados,
Mas sim um mistério, pungente e vadio, que acerca-se daqueles
Que por ventura ou desventura ainda estejam sozinhos!

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