sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Beleza X Nobre Exuberância (Pedro Drumond)






Beleza X Nobre Exuberância
(Pedro Drumond)

Sim, já fui preservado
Das minhas atuais elucubrações
Nos tempos da inocência
(Aqueles irrevogáveis tempos...
Sem maiores encantos e deslumbramentos,
Simples em suas essências e fiéis aos seus juramentos)

Como qualquer um, passei por esse processo
De cozimento, banho, rito e preparação
Até que é chegado o momento
Em que nossas almas estejam "no ponto"
Para logo serem absorvidas e bem apreciadas
Ou talvez estragadas, devoradas,
Quiçá selvagemente consumidas pelo resto do mundo

A beleza, portanto, hoje é meu assunto de pauta,
Já que ao sair da inocência, tornamo-nos
Tão contemplados quanto que distorcidos
Pelos mais variados tipos de brios da vida
Pois bem, já que estamos em novos,
Mas ainda cheios de resquícios dos “velhos tempos”
Vamos nos ater a ela – a deusa Beleza -
Que atualmente está mais em voga
Do que o seu principal acabamento

Podemos nos debruçar ou despencar sobre a beleza
Muitos de nós já fazemos isso, sem o perceber,
A beleza hoje em dia, infelizmente,
Tornou-se muito mais plástica e presumível
Hoje qualquer um a reverencia,
Todos podem de alguma forma obtê-la,
No entanto, estamos inseridos num ninho
De tantas ilusões e disfarces
Que vemos a figura,
Mas não somos capazes de ver o ser

Nem vamos citar, por favor,
"As imposições e padrões gratos à sociedade",
Que desses já estamos bem cientes do que se tratam
Vamos, ao menos um momento, nos assumir
Como partidários ou vítimas de uma veneração
Por um quesito estético,
Que vem sendo conspurcadamente usado
Como se esse o fosse grande sinal
De virtude ou cartão-postal

Aos poetas, às donzelas,
Aos enamorados das belas-artes,
A beleza, enquanto atributo do ser humano,
Pode ser um benfazejo para uma contemplação
E estima indistinguíveis... Isso até é louvável,
Porém, aos iludidos, aos superficiais
E aos categóricos, essa mesma beleza
Exsuda-se como uma injeção peçonhenta,
Sendo capaz de extirpar qualquer sobriedade do indivíduo
Sem ser incriminada, suspeita ou rastro de algo,
Já que o seu veneno letal preserva nas suas vítimas
Um doce sabor de libido diluído a mel

Há aqueles que na restrição da beleza
Chegam a dividir espaço junto a Apolo & Vênus,
Porém quantos desses possuem uma nobre realeza
Que evita exaltar os que lhes procuram
Com simples respostas, respostas mínimas,
Ao contrário daqueles que nutrem uma fusão
Com um conhecimento mais profundo,
Com um mais profundo sentimento?

A beleza muitas vezes tem sido
Distorcida do seu real princípio, concorda?
Vem causando maiores tormentos
Aos seus representantes, deveras constrangidos
Belos homens e mulheres que são...
Hoje podem sair a noite e possuírem aos seus pés
Uma legião de súditos para a satisfação
Dos seus (seja lá quais forem) deleites

Certas portas são com mais facilidade
Abertas para eles – os belos - muitas delas
Escancaradas, convenhamos, o que faz
Com que eles as atravessem
Em rumo dos seus paraísos perdidos,
Sem, sobretudo prestarem a devida atenção
Se um solo firme e digno
Encontra-se presente no mesmo andar
Ao saltarem displicentemente
Rumo aos tantos feixes convidativos,
Os belos, também como qualquer outro reles mortal,
Decaem vulneravelmente em seus abismos - profundos e colossais

Talvez as solidões dos belos sejam mais implacáveis
Porque costumamos a não associar muitas limitações a eles
Nem a mensurar quais seriam as suas reais preferencias
(Que podem partir das mais absurdas às mais surpreendentes!)
Nós empalhamos esses "meninos-e-meninas-dos-olhos", pupilos,
Numa controvérsia cheia de utopias
Que nem mesmo entendemos o significado

Os belos, homens e mulheres,
Também sentem a fome do espírito
Sofrem, mas não assumem, permanecendo calados
Talvez a fome deles seja maior que a dos outros,
Já que possuem diante de si variados e grandes banquetes
Que não lhes saciam todavia o tão abissal e comum vazio interior

As aparências não nos enganam, elas simplesmente nos ironizam!

Essa extrema facilidade que muitos possuem
De invejável ascensão, devido à beleza,
Torna um pouco mais dificultoso aos seus agraciados
Encontrarem uma verdade sólida,
Uma graça oferecida que seja desinteressada,
Um sentimento que não seja apenas frívolo
Em troca da satisfação e importância que supostamente causam

Muitas vezes a beleza tem sido carregada
Sobre as corcundas de seus portadores
Como se essa o fosse legítima maldição,
Pois quantos de seus pupilos não se cansam
De serem vistos distorcida ou apenas superficialmente,
Apenas despertando, atuando ou sendo confundidos
Com os mais delirantes, momentâneos e volúveis dos princípios?

As pessoas trabalham mais na beleza
Do que de fato a beleza nas pessoas é trabalhada
Dizem que essa tal beleza
Encontra-se verdadeiramente nos olhos de quem a vê
Isso é até paradoxo, antagônico, pois hoje em dia,
A beleza está sendo mais reconhecida por nós
Pelo melhor corpo que se apresenta aos holofotes
Do que pelas percepções internas nutridas pelos envolvidos

Talvez no olho a olho, podemos vislumbrar
Uma verdadeira beleza, digo,
Pois há quem possua o devido foco de desnudar
A digital única e incomparável
Que oculta-se por trás da presença
Do nosso até então requisitado espírito

A deusa Beleza, portanto recomenda aos seus pupilos
Para que não se rebaixem apenas aos proveitos
Do deslumbramento, dos instintos e das miragens
Que podem com muita sagacidade retirar
E nem a tornem, a deusa Beleza, uma máscara (E que máscara!)
Pelo que podem, como feitiço, nos outros causar



Cobiçadores e cobiçados, no final
Permanecem todos sem relevância,
Pois a verdadeira beleza vinga-se
Além da forma escolhida para ser extravasada
Pelos poucos que possuem uma nobre exuberância!

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