sábado, 28 de dezembro de 2013

O Romantismo Pelo Impossível (Pedro Drumond & Cibele Laura)




O ROMANTISMO PELO IMPOSSÍVEL
(Um monólogo de Pedro Drumond & Cibele Laura)

Estou consumido pelo pior tipo de pranto que existe --- aquele que não é mais subvertido em lágrimas, mas apenas te faz marejar as janelas da alma, os olhos, com um sabor de um aguardente, como se o fossem dois orifícios ou portais do verdadeiro inferno. O inferno interior está em brasas! Nesse fenômeno, o que ocorre? Uma espécie de redemoinho, que abre a boca do estômago dos oceanos, dos buracos negros, enfim, é como se pode aspirar a tristeza e os nódulos que lenta e agonizantemente se expandem peito afora e peito adentro.

A dor mais dolorida é aquela que já não dói mais, porém mesmo assim ainda existe, persiste. Jamais somos afogados pelas emoções mais fortes... Muito pelo contrário, as emoções que nos afogam são as mais frágeis, as mais débeis, as mais fracas. Casas de tijolo persistem mais um tempo, já a ventania ou o fogaréu em poucas piscadelas já destroçaram com as casas de palha. Os esboços do meu coração ainda estão perdidos nos entulhos. Que eu morra afogado, ora, nunca tive medo disso! Não vim a vida de graça, é fato, mas que pelo menos não sejam pelas águas rasas que eu me finde afogado, que não seja nas rasas águas (pessoas, histórias, emoções) que eu fique à míngua por aí; sugiro para tal, de preferência, as águas mais profundas, sim, as mais profundas, as mais ferozes, bravias, pois pelo menos elas têm mais grandeza, e por elas se morre ou se deixa matar, e sobrevive-se em lenda ou mito como o grande herói ou ilusão de si mesmo. É preferível agonizar ou gozar com um profissional do que com um principiante.

Covarde, devo ser. Eu quem sempre procuro o mesmo punhal para me fincar aos poucos, sem acabar com tudo isso de uma vez. Um suicida, mesmo tendo uma natureza ou rompante extremo que me trai a sanidade, consegue ser mais corajoso e nobre do que eu, que pareço ter uma espécie de demência para me extirpar aos poucos, espinhadamente. E eu pergunto - pelo quê? Por quem? Para quê? Por nada, poxa! Por nada... tem coisa mais absurda do que isso? Tem coisa mais absurda do que você se reconhecer sem maquiagem? Talvez eu não tenha quebrado minha cara o suficiente, quem sabe num abismo maior, mais profundo, obscuro, em uma imensidão mais tortuosa, eu me contente, já que sou ainda amortecido na queda e destroçado pelo pela sobrevivência e o silêncio do qual vem ela acompanhada. Salve o silêncio como resposta e ausência da mesma!

Por que falar tudo isso se na verdade, sentindo cada letra e seu sangue, essa dor não me dói mais? Essa tristeza não mais me entristece? Com o tempo a alma se inverte. Para que continuar a questionar se não me importo mais? Que sentido tem os dois caminhos - sofrer sem dor ou ter dor sem sofrer?

A vida mudou, seguiu adiante e eu... não, eu fiquei. Amando um boneco, uma ideia, falando com as paredes, cantando para ninguém, interpretando todos os heróis e vilões que os meus palcos esquizofrênicos permitem, curando chagas das almas alheias, mostrando luzes no fim do túnel, plantando flores, comendo verduras, sendo higiênico, fazendo de um tudo, porém ainda sendo indigno de ser eu mesmo ou fazer algo útil em nome da mentira da minha existência, em nome dessa mentira, pelo que procuramos tanto uma verdade.

Que estranho espírito possui as minhas questionações, não? São tão tecidas de afirmações do que propriamente dúvidas... São remendos do meu ser. Mudamos, alguma hora mudamos e por mais que queiramos, jamais teremos como lutar contra isso... O que tento de todos os modos manter incólume dentro de mim, afim de reverter um pouco mais o meu tempo de vida, é o amor. Sim, eu sabia que o amor jamais responderia as minhas questionações, jamais voltaria a sua atenção para um sujeito no meu estado. O amor que venero no meu mundo indene, esse amor, não existe exógeno a mim. Muitas vezes o espaço vago do silêncio é o melhor que podemos extrair das situações que nos espremem...

O amor não tem nada para mim. Vá a uma árvore que não dá frutos e peça um alimento. Ela não vai te dar. Não porque seja maldosa, mas porque sua natureza não produz o que saciaria a tua necessidade. Tenho que parar de pedir às macieiras, ameixas, tenho que deixar de choramingar em portões fechados... Essa dor que já não dói é nada mais que um calejo, um hábito, um vício. Percebe-se que em mim todo esse romantismo pelo impossível se tornou cotidiano demais! É uma batalha perdida contra o tempo, a grande derrocada, o murro em ponta e faca. Assopro a ferida enquanto ela nem criou casca e lá estou eu, cutucando-a, que nem um moleque incorrigível, novamente. Vou mesmo é desertar essa guerra e viver. Sim, eu me rendo... Vou sobreviver a mim mesmo.

Era uma vez um homem-mulher frustado. Ele cheira cocaína para ver se passa seu tormento, porém não obtém sucesso. Ás vezes olha para o céu, em busca de Deus, pois quem sabe, ao olhar durante um tempo para Ele, ele retorne com o olhar e lhe dá um pouco de atenção. O homem-mulher se sente uma criança, um filhote sem dono. Não crescerá nunca. É um filhote. Mas algo muda... A gente envelhece, mas continua filhote, isso é uma merda. Merda é você olhar para as fotos que guardam a sua juventude e constatar que o tempo passou e você não. Mas a carência é a mesma. O homem-mulher era jovem, era carente. Agora está velho, mas continua carente. O tempo só age na carne, mas nós somos esfinges de sentimentos num deserto de nada.

Talvez, me recordando da história desse homem-mulher, que ouvi a muito tempo atrás de uma anciã, me convencerei da inutilidade de me agarrar a esse amor, porque o amor que eu cito, ele nem existe mais... O amor que vive e respira, que num dia desses parabenizei pelo seu aniversário, agora para mim é mais um estranho. E não devíamos falar com estranhos... Dos amores todos malfadados, que me regalaram a essa inanição, aprendi que os homens que amei nem sequer existiram. Os homens, sim, pois o único que venero amorosamente, na verdade, é um leque de ilusões, de versões.

Atônito, sem mais palavras, arrebatado, chocalhado, desperto, sóbrio... Sóbrio, como se tivesse sido imbuído de um choque elétrico, uma água fria, uma cura, nada mais de anestesia.. Anestesia... Nada mais... Assim o amor me deixou agora... Não sei agradecer, não sei complementar, não sei ser educado, não sei nem responder a altura... Estou nessa escalada há muito tempo e ficar por baixo é pior do que cair no abismo... Eu tenho que seguir, agora não mais por mim, mas em nome da verdade, da lição de vida que busco representar e da ausência de um significado mais digno, do qual padece minha vaidade...

Atônito, impactado, sentido.... Atônito, impactado, sentido...

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