sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Os Melindres D'alma (Pedro Drumond)





Os Melindres D’alma
(Pedro Drumond)

Uma alma, quando certamente superou a si mesma
É capaz de levar os mais duros golpes da vida
Juntamente com os mais brandos bálsamos de afeto
E absorvê-los, penetrá-los, mitigá-los
Com a mais imperturbável das reações
Sem proferir quaisquer distinções
Entre o que lhe eleva ou denigre
Uma alma, quando certamente superou a si mesma
Recebe enxurradas de acusações,
Seguidas com os mais variados venenos da tristeza,
Ou surpreende-se com as mais amáveis das considerações,
Isentando-se logo de qualquer interesse ou subterfúgio
No destino que a levará para além de suas bifurcações

Sem sequer trepidar, colidir ou deslumbrar-se,
Logo tem por transmutadas as suas próprias ilusões
Vingando-se sóbria, sabe-se lá se digna ou indignamente,
No final de suas próprias alucinações

Quando não há mais uma voz ou berro interior
Advindos dos melindres d’alma
Quando não há mais diferença entre conflito ou calma
Quando se está profundamente inóspito ou indiferente à vida
Quando se superou, ao longo da jornada, as constantes investidas da morte
Contra o resultado do que somos e do que jamais poderemos ser,
Assim escorrerão secas as nossas lágrimas
Advindas em quantidade praticamente escassa à luz do nosso exterior
Assim o prazer não será mais tão preponderante aos nossos sentidos,
Pois nesse momento já não terá mais tanto sucesso em nos machucar
Àquilo que costumeiramente chamamos de dor
Estaria então a alma anestesiada? Estaria a vida acostumada?
Ter-se-ia entregado os pontos? O ser acovardando-se facilmente?
Seria isso um privilégio ou um completo azar na vida da gente?

E no pensamento distante que me ocorre a cerca do amor
Pela aliança que me fez sentir que tudo girava em torno dele
Começo a presumir que se outra alma a mim chegasse
Não deveria ter por esperança conseguir de mim
O que se edifica e tem por oferecer o restante do mundo
Se hoje me viesse outra alma, com a falta de alma em que justo me encontro,
Eu gostaria de superar o romance, o sexo, as pequenas e grandes coisas
Assumiria minha falta de interesse pelo enredo dos apaixonados
Presumíveis que são, todavia com seus “truques e embustes”

Eu estaria, sim, a disposição de ser convidado
A penetrar no esconderijo mais secreto do ser,
No porão inviolável, d’onde se instalara
O verdadeiro motor da vida e do segredo humano
Seria esse o meu alvo, o meu abrigo
Pois do contrário, n’outra dimensão
Eu não escolheria viver
Eu não quero a vida, eu não quero o amor
Dispenso sem reservas até mesmo o infinito
Eu quero apenas e simplesmente a mim mesmo,
Ainda que eu me descubra encarcerado
Nos complexos d’outro ser, digo apenas
Que quero a mim mesmo e nada mais!
Dispenso os ganhos preteridos pelo restante das pessoas
Não arrisco minhas mãos ao fogo nem pelo que quero para mim,
Mas o amor não há de me convencer a sonhar com coisa alguma!

Revelo então o que desejo para mim
Simplesmente porque o que quero
É algo que ninguém jamais poderá ter
Nem mesmo eu!

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