segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um Amor Inventado, Um Corpo Sem Alma







Um Amor Inventado, Um Corpo Sem Alma

Intrinsecamente em cada sílaba, amiúde em entrelinhas, coleciono as incógnitas do mundo em cada palavra. Mas não o faço vulgarmente, de modo que, se não houver conteúdo, experiência, cálice de sangue derramado de minhas feridas, dificilmente alguém compreenderá algum saber desvelado no diálogo entre um amor inventado e um corpo sem alma. Ambos estão alojados no interior de toda caverna humana que acabamos nos tornando.

Procuremos, portanto, saber em que lugar, desse páramo chamado vida, nossa verdade pretende descortinar-se, pois essa é uma escolha que, uma vez feita, impede qualquer retrocedência. Nunca se é o mesmo depois que se ama uma vez.

***

O meu amor é uma procura, é uma insatisfação, não encontra-se em nada que me satisfaça, que me nutra. Ele está na ausência, na fome, na inanição. Ele não existe. Ele é nada porque eu também sou um nada. De fato, não sou desse mundo e esse mundo não é meu, nem nada que esteja inserido nele. Sou um corpo sem alma.

Um corpo sem espinha etérea, um ser vazio, um palácio sem realezas e nesse vazio, penso que posso abandonar minha alma sem teto. Sou um amor inventado.

Uma alma errante, cigana, dispersa, sem lar, procurando um lugar inóspito para me resvalar de toda essa vida itinerante sem nexo. O amor inventado que me deu luz à vida e minha alma sem corpo, exilada de todo o universo, querem um abrigo, mas não uma prisão, por isso o procuram, por pior que seja, isso ainda é liberdade.

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Acontece que não sei se acredito nesse meu desvario ou nos desvarios daqueles que não amam ou o temem simplesmente, hesitando em diluírem-se em águas profundas, choques, colisões ou pequenos desmaios, quedas que, por ventura, nos elevaria de alguma forma.

Como posso então acreditar naqueles que esquecem de tornarem suas vidas uma estória, um fenômeno gladiador, onde seus épicos sentimentos se tornam absurdos para todos as pequenos e grandes resultados, como acreditar?

Como conviver com os que confortam-se no lugar em que esbravejam leis e ignorâncias,  protegidos em bolhas, enquanto que todos os amantes da verdade permutam a matéria, silenciados pelas suas inocências; inocências sem qualquer propósito, mas que fazem todo sentido para a essência que deseja-se criar,  como conviver?

Como posso acreditar em mim? Naquilo que invento?
Como conviver comigo, que nem me sinto por dento?
Invente-se um amor para um corpo sem alma, e já!

Não passamos de vultos, de miragens da vida, sombras da rua, é verdade.  Cicatrizemos, portanto, cada ferida que colecionamos de outros tempos e unimo-as em um única marca que seja. Veremos, a partir de então, que elas não são tão grandes e profundas quanto aparentam. Que a vida não é tão incomensurável como acreditamos. E que igualmente não somos tão findos quanto gostaríamos de ser.

Pedro Drumond & Cibele Oliveira

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