quinta-feira, 30 de maio de 2013

Cuspes da Ironia (Pedro Drumond)



Cuspes da Ironia
(Pedro Drumond)

Vivendo no âmago da existência
Sem ter o que pensar
Lembrando, porém que na juventude
Minha essência era profunda, antiga, sábia
Sua qualidade era toda baseada
Nas idas que desbravou sem caminhar
E veja só, na juventude, ainda por cima...

A inocência deveria ter-me sido dada
Em grandes doses de anestesia
Que promovem o corrosivo sentir da atmosfera
Como se essa fosse revertida de brasas, fuligens
Remendos, clipes, grampos
E sangramentos ainda não estancados

Sigo, náuseas
Exprimo, causas
Redimido, farsas
Esquecido, pragas

Dentro de instantes tudo pode se esvair, sabemos bem disso
O tempo é a fôrma do pensamento sem fim, sem conclusão
Que discute, omite, refaz
Inventa, desmente, confirma
E depois... ah, depois não quer saber mais, deixa pra lá...
Assim sendo o que eu posso pensar do tempo?
Seu fado é permanecer queimado, frio ou cru
Já que prefere englobar a diversidade das mentes
As várias estórias de caras contra-batidas ao muro
Como um réprobo fugitivo em companhia da verdade
Delinquentes, sim, amantes, com certeza, bando de marginais...
E essa dupla sempre foi muito franca, não negando sua índole
Posto que nos deixam pistas bem claras
Da total indiferença e ausência de intensões
Em aliar-se, comungar-se, com qualquer um de nós

Ao redor de nós há um esplendor de natureza
Dentro já há o impulso de sermos autores
Engasgados de nossas certezas
Sempre tão concretas, compactas
Trépidas e quebradiças

Pois é sendo abraçados pelos cenários distintos, tempos longínquos
Que nós, personagens inquilinos, sem ter mais o que fazer
Pretendemos todos nos divertir descobrindo o que é a vida
Não nos damos conta, entretanto, que neste jogo, neste espetáculo
A chuva que decai não passa de cuspes da ironia
Que simplesmente berrou a nossa condição reduzida
De sermos simples homens - é mole ou quer mais?

Instintos, complexos
Vazios, sozinhos,
Amigos, inimigos
Estranhos, conhecidos
Pa-ra-lí-ti-cos!

Por final só posso dizer que a impressão de que nossas almas
Sejam porventura secretas ou especiais, fica contrariada
Ainda que o seja, quem liga pra isso?
Vede o quanto se guerreia, se ofende, se aniquila
Como se uma pequena sombra não se apagasse
Quando inserida em toda uma penumbra
Que desbanca sem esforço os que seguem bússolas
A caminho da persistência e da fibra

Eis o teto que se abre - A vida não é uma questão de necessidade
Justificando sua razão de se dar
O importante é, até quanto se absorve sua intensidade
Que alimenta, mas não mata fome
Que sussurra, mas não sabe-se de onde
Que invade a todos, mas finge que conosco
Brinca de pique-esconde.

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