domingo, 26 de maio de 2013

Caminhos sem Voltas




CAMINHOS SEM VOLTAS

Eu pensava que o amor - pouco importando se sendo um personagem ou um estado de consciência - seria uma poética, mas não menos utópica e infeliz criação do homem, que numa reação súbita dessas de inspiração ou esquizofrenia, acabou por fundi-lo com sua tosca assinatura. Tudo isso resultado do homem na sua desesperada tentativa de ser um pouco mais além. Além? Ah, de um dia ser, de fato, humano!

Se é que um fator dessa natureza, dessa sensibilidade fugaz - primeiro "o ser", depois "o humano", em seguida os dois, "ser humano" ou até "ser-e-humano" - se é que algo dessa magnitude fosse um dia possível de se promover em absoluto. Mas se o homem é perdoável pela sua maldade, por quê não pela sua inocência?

Passou-se o tempo e naquele período em que minhas raízes começavam a surgir sem base própria, a fim de suportarem brevemente o peso oriundo de minh'alma (que sem saber que dormia, deu-se um dia por desperta, banhando-se todo fim de noite num plácido lago anil de disfarces, dos mesmos disfarces utilizados pelo amor, na simplicidade das ambições humanas ou nas complexidades do significado velado de seu espírito), acostumei-me somente (e olhe lá!) a dar-me por satisfeito por via do silencio. Logo percebi que ao invés dos segredos da vida, eu possuía o dom de traduzir a linguagem da tristeza - Que era, por sua vez, tão confusa aos entendimentos humanos, mas inexplicavelmente um puro aconchego para mim! Que era uma tirana para com as pessoas, mas me dedicava um carisma especial. Sendo musicalmente agradável aos meus sentidos, tão sequiosos de experiências empíricas, quanto (e só então por último) transcendentes.

Eu sabia justamente quão clara era a luz do sol, como também quão obscuro era o oceano dos céus, mas diferente das pessoas livres, eu nunca havia saído de casa, tampouco analisado as paisagens que o mundo infinitamente se reprogramava para inventar à elas. Muito pelo contrário, meus olhos cegos não enxergavam sequer o invisível! Mas viam tudo como num "filme lúdico", onde o transcorrer da existência é imóvel, reproduzido repetidamente nas nas janelas da minha liberdade - que permanecem sempre fechadas.

Assim sendo, tenho convivido há tanto tempo comigo mesmo, que resolvi, como de esperado, em mudar-me para um outro mundo - que fosse mais inóspito e irreal - do que aquele que abrigava minhas fugas. Sendo tão volúvel quanto coerente, nem cheguei a deixar um aviso preventivo para minha própria pessoa dessa decisão, pois aguardava sua reação aos dias vindouros de estranhamento.

Antes só isso o fosse, mas acabei encontrando no meu trajeto uma nova dimensão, atemporal, e desde então passando a conviver demasiadamente com a presença do amor, que ali habitava, e finalmente me dei conta de que estando ali, no seu local de refúgio, acabava de encontrar a causa que justificava a sua ausência ou aparente distancia nas nossas vidas - o amor também vive de caminhos sem voltas.

Quando o flagrei ali, no seu sono reparador, percebi que ele me possuia o semblante de uma criança - doce, quando parte inocente para sonhar suas fantasias e angustiado, quando está prestes a retornar à sua realidade (ainda por cima tendo de vivê-la).

Entre o amor e as pessoas não existem muitas diferenças. Ele, assim como nós, também sente perdido. Por isso se esconde.

Pedro Drumond

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