segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Provocação (Pedro Drumond)






Provocação
(Pedro Drumond)

Deuses jamais serão entendidos pelos humanos
Da mesma forma, os humanos jamais serão entendidos pelos deuses.
O que melhor ser - deus ou humano? Ah, impossível dizer!
Podem se tratar de uma mesma coisa,
Ambos com o seu distinto valor.

A família, por exemplo,
É a única platéia que entra e sai da sua vida
Sem jamais entender o espetáculo.
Respectivamente, porém, sempre haverá
Um choque, um confronto entre aqueles que desceram
Até o Hades da própria alma e lá encontraram
O seu nefasto Olímpio, sem desejar um lar.
Logo, é mais fácil questionar alguém,
Cujo objetivo próprio de vida é o amor
Do que, em comparação, poder melhor amar.

Somente aqueles que transcenderam a dependência de viver,
Assim como a importância de suas auto-imagens,
Aqueles que de fato se expandiram ao grande Nada,
Nesse espasmo, que ao Todo contém,
São quem podem ir mais além... Mais além...
Mas vejamos bem: Talvez nunca mais voltem a serem vistos!

Em vista de terem almas abertas às incoerências da vida,
Tal qual a certeza da morte, precisamos nos dissipar
No compasso em que vamos nos gladiando uns com os outros,
Pois totalmente constrangedor é não termos rumo.

Como virou moda acreditar em sua plenitude,
O tempo passa. Passa tudo!
Minhas esperanças vão se esvaindo
Pela triste fumaça do cigarro.
Portanto quero mais é viver
Para ser uma provocação, um grande incômodo.
Viver a ponto de ser um tolo
Incapaz de ser pego desprevenido.

Que eu não venha mudar de atitude
E que ninguém, a não ser eu mesmo,
Possa ter-me por transformado.
É muito simples viver com silêncio dos desertos,
Com o eco das cavernas. O que nos desafia mesmo
É darmo-nos conta dos nossos passos incertos,
Uma vez que o grande absurdo da vida
Convém às nossas explicações
Serem dirigidas aos anjos das trevas.

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