quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Diversos "Eus" (Pedro Drumond)




Diversos "Eus"
(Pedro Drumond)

Amor dos horizontes...
Tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes.
O romantismo dos humanos intensamente reais
É tido como loucura pelo resto de projetos banais.
Não somos entendidos, mas preferimos sermos ignorados
Por tudo aquilo que verdadeira e forjadamente somos.

Não adianta falar do vazio, não adianta falar do nada.
Não adianta falar da náusea, não adianta falar da distinção.
Seremos sempre atacados, nossos tapetes serão puxados,
Vômitos de inveja, ódio e rancor,
Jorrarão como gordura de carneiro sobre nossos corpos,
Pois para os cegos da alma a luz dos sentimentos é uma aberração.

A cada dia que se passa,
Noto que minha alma não possui nada de novo.
Outros, assim como eu, ou até mais do que eu,
Aqui estiveram, aqui estão
E aqui neste solo muitos haverão de estar.
Muda-se os tempos, os personagens,
No entanto a mensagem e a falta de contexto
Permanecem exatamente os mesmos.
Um eco que urge como explanação
Lá das cavernas do homem primata
Pode ser facilmente traduzido para o homem atual
Que passa pelo mesmo mundo,
Cujos os seres de igual escalão
São simpáticos às torrentes do atemporal.

A essência que caracteriza nossas almas
Marcam-nos como espécies de órbitas confusas.
Por conta disso cada dia que passa
Aproximo-me de revelações mais nítidas.
Diversos são os "Eus" do meu único reflexo.

Você já sentiu-se um grande desperdício?
Ás vezes permito-me sentir-me assim:
Um erro da natureza, um grande equívoco.
Um genuíno potencial sem espaço
Neste mundo falso e hipócrita.

Sou uma máscara. Minha vida, o rosto menos ideal.
Não sei porque tenho que vislumbrar
Com os olhos secos, baixos e avermelhados,
Esse rosto tão assombroso e desfigurado
Que estampa-se por todos os lados
- o rosto cruel e hipnotizante da vida.
Sou um leão criado em meio aos ratos.
Há algo, portanto, que sem querer se aflora,
Algo que deve urgentemente se impor.

Para quê ser respeitado?
Para quê louvar uma moral?
Eu desmereço qualquer princípio.
Eu sou muito mais do que a minha dor.

Não posso ter muitas certezas sobre quem sou,
Pois quem busca entender a vida
Ainda está muito adoentado dela.
Fiz uma lavagem existencial.
O que tenho não é desinteresse,
O que possuo é apenas uma mácula,
Por isso busco sempre viver em confronto
Ora com os virtuados, ora com os paspalhos
(na realidade, eles não são muito diferentes).

Nessa vida eu só posso ser
Melhor do que eu e pior do que eu.
Comparações alheias são os atalhos mais perdidos.
Só posso ser mais do que sou e menos do que fui.
Só posso ser pó do meu ser só. Nada mais e só isso...

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