sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Os Deuses, Os Mortais & Eu (Pedro Drumond)





Os Deuses, Os Mortais & Eu
(Pedro Drumond)

Céus! O arrepio que percorre meu corpo
É um choque das mais elevadas voltagens
Que chega a desvirginar a minha alma!

Eu e o meu extremo excesso de amor
Não nos contemos, nossa represa se rompe!
Até então invado terras distantes,
Percorro cavernas misteriosas,
Sou uma avalanche arrasadora
E mesmo tão imbuído da delicadeza
Daqueles que criaram um manancial de amor inabitável
Dentro de si mesmos.
Desço do meu templo divino e sigo destino
Rumo as esferas rasas dos homens.

Chegando lá me deito em suas camas,
Fazemos viagens dionisíacas no carro, noites afora...
Nos embriagamos de orgasmos tão poéticos quanto físicos.
Quando as matas são o nosso palco de paixão
E o reinado do luar, com suas inúmeras estrelas, são nossa platéia,
Percorro todos homens da côrte, não hesito em me disfarçar de plebéia.

O importante é que o deus do amor,
Exilado do seu reino mágico,
Tenha passado pelos corpos, pelas almas,
Pelos gozos de todos os tipos.

O importe é o deus do amor esquecer que um dia amou
E lembrar que para sempre não foi amado.
O deus do amor passa por todos
Sem que ninguém tenha ficado ao seu lado,
Pois é essa a sina de quem escolheu
Arriscar tudo sem garantias para viver.

De duas uma: Ou se torna consciente da essência desse teor,
Impedido, todavia, de aplicá-la em qualquer realista experiência,
Ou se vive as mais raras excelências do sentimento
Que invejam os solitários, os rejeitados, os limitados a sonhadores,
Mas jamais venha a se dar conta da sua distinta riqueza.
Se vive como um mendigo a vida inteira,
Cujo interior do papelão sobre o qual dormia
Ocultava um diamante valioso - que se outrora descoberto
Teria tornado tudo bem diferente...

Se vive a verdade, mas não se saberá o que é o amor.
Assim, de quaisquer ambas as partes,
Haverá profunda incompletude.
Os amantes, invejados pelos deuses,
Voltam ao seio de seus lares, insatisfeitos,
E os deuses, amaldiçoados por serem divindades
E adorados equivocadamente, se recolhem em seus palácios.
Dada hora da noite, em meio ao ouro excelso do qual são banhados,
Sentem os deuses o peso de sua profunda pobreza de espírito.

Mais um dia se passa,
Os mortais vivem o amor infinito, sem o saberem.
Os deuses vivem a eternidade, sem de amor morrerem.
E entre um e outro, padeço do pior mal
Não sou humano, tampouco sou deus - sou mero animal!

Nenhum comentário:

Postar um comentário