quinta-feira, 5 de junho de 2014

As Chispas do Inferno de Dantes (Pedro Drumond)





As Chispas do Inferno de Dantes
(Pedro Drumond)

Como proceder diante do amor?
Como morrer dignamente perante a vida?
Como oferecer a essência escassa da alma?
Como conservar uma pura integridade,
Se nem ao menos a maioria de nós
Aprendeu a enxergar o outro
Como um reflexo do que outrossim somos?

Se tudo o que no fundo ansiamos
É pelo momento de disparar tiros no escuro,
Muito mais pelo hedonismo de ser ferido,
Prendendo o outro nas teias do tormento,
Do que para nos ferirmos descaradamente,
Assim sucumbindo por culpa própria,
Como ser o melhor que se pode
Se nem ao menos a maioria de nós
Entendeu o que significa ser humano?

Poeta bom é poeta morto.
Amor eterno é amor que nem viveu.
Saudade se tem do que ainda não se perdeu.
Quando alguém então sair rua afora
Muitas vezes levará uma parte de nós
Que jamais tornará a ser vista...

Mas quem disse que já vira-se antes?
Tudo o que há no cerne de nossa visão
É a escuridão dos olhos que fecham-se
E simplesmente choram as mesmas chispas
Pranteadas por Dante, que espalhou em seu inferno
Todas as esperanças dos trajados mortais,
Cuja natureza nesse dado momento
Por si só já se consagrava perdida!

Nenhum comentário:

Postar um comentário